domingo, 28 de dezembro de 2008

Fundamentos da Educação Cristã

de Ellen G. White

Estudo escola Sabatina


Meios de Comunicação do Céu

Domingo 28/12/2008



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Por Seu sábio desígnio, o Senhor encobre verdades espirituais em figuras e símbolos. Mediante o uso de figuras de linguagem era muitas vezes dada a Seus acusadores e inimigos a mais franca e eficaz repreensão, sem que pudessem achar em Suas palavras algo para condená-Lo. Em parábolas e comparações Ele encontrou o melhor método para comunicar verdades divinas. Em linguagem simples, usando figuras e ilustrações tiradas do mundo natural, Ele descerrava a verdade espiritual a Seus ouvintes e expunha preciosos princípios que se teriam apagado da memória deles, sem quase deixar vestígio, se Ele não houvesse relacionado Suas palavras com emocionantes cenas da vida, experiência ou natureza. Despertava assim o interesse deles, suscitava perguntas e, quando havia captado completamente a sua atenção, neles inculcava decididamente o testemunho da verdade. Conseguia deste modo causar tal impressão sobre o coração que, mais tarde, ao olharem Seus ouvintes para aquilo com que Ele relacionara Seu ensino, podiam recordar as palavras do divino Mestre.

O ensino de Jesus era de natureza completamente diferente do ensino ministrado pelos doutos escribas. Eles pretendiam ser expositores da lei, tanto escrita como tradicional. Mas o tom formal de suas instruções indicava que não discerniam nada nas doutrinas dos sagrados oráculos que tivesse poder vital. Não apresentavam nada que fosse novo; não proferiam palavras que satisfizessem os anseios do coração. Não proporcionavam alimento para os famintos cordeiros e ovelhas. Tinham o costume de demorar-se sobre as partes obscuras da lei, e o resultado de suas argumentações era uma coleção de palavras absurdas, que os doutos não conseguiam entender, nem eram compreendidas pelo povo comum.

Cristo veio para revelar ao mundo a verdade divina. Ensinava como quem tem autoridade. Falou como jamais alguém havia falado. Não havia hesitação em Sua conduta, nem a


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menor sombra de dúvida em Suas declarações. Ele falava como quem entende todas as partes do assunto. Poderia haver desvendado mistérios que patriarcas e profetas almejavam perscrutar, que a curiosidade humana desejara ansiosamente compreender. Porém, se os homens não conseguiam discernir as verdades mais simples e expostas de maneira bem clara, como poderiam compreender os mistérios que se achavam ocultos aos olhos mortais? Jesus não recusava repetir antigas verdades familiares, pois era o Autor dessas verdades. Ele era a glória do templo. Separou do erro verdades que haviam sido perdidas de vista, que tinham sido desvirtuadas e mal-empregadas e que foram desligadas de sua posição correta; apresentando-as como preciosas jóias em seu brilho, tornou a colocá-las em seu devido engaste, e ordenou que permanecessem firmes para todo o sempre. Que obra foi essa! Era de tal natureza que o homem finito não podia compreendê-la ou realizá-la. Somente a Mão divina podia pegar a verdade que, em sua ligação com o erro, estivera favorecendo a causa do inimigo de Deus e do homem, e colocá-la onde pudesse glorificar a Deus e ser a salvação da humanidade. A obra de Cristo consistiu em restituir ao mundo a verdade em seu viço e beleza originais. Ele representava o espiritual e celeste pelas coisas da natureza e da experiência. Dava o tenro maná à alma faminta e apresentava um novo reino a ser estabelecido entre os homens.

Os rabinos expunham os requisitos da lei como uma enfadonha rotina de exigências. Eles faziam exatamente o que Satanás está fazendo em nossos dias: apresentavam a lei ao povo como frio e rígido código de preceitos e tradições. As superstições encobriam a luz, a glória, a dignidade e os reclamos de grande alcance da lei de Deus. Professavam falar ao povo em lugar de Deus. Depois da transgressão de Adão, o Senhor não falou mais diretamente com o homem; a humanidade foi entregue nas mãos de Cristo, e toda comunicação ao mundo foi efetuada por Seu intermédio. Foi Cristo que proferiu a lei no Monte...


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...Sinai, e Ele conhecia o significado de todos os seus preceitos, a glória e majestade da lei do Céu. No Sermão da Montanha, Cristo define a lei e procura inculcar na mente de Seus ouvintes os reclamos de longo alcance dos preceitos de Jeová. Suas instruções foram uma nova revelação ao povo; e os intérpretes da lei, os escribas e os fariseus, bem como o povo em geral, ficaram maravilhados de Sua doutrina. As palavras de Cristo não eram novas, e, no entanto, tiveram o impacto de uma revelação; pois apresentavam a verdade em seu devido aspecto, e não do modo como os mestres a haviam colocado perante o povo. Ele não manifestava consideração pelas tradições e os mandamentos de homens, mas abria os olhos do seu entendimento para contemplarem as maravilhas da lei de Deus, que é o fundamento de Seu trono desde o princípio do mundo; e, enquanto durarem os céus e a Terra, através dos infindáveis séculos da eternidade, ela será a grande norma de justiça, santa e justa e boa.

O sistema de economia judaica era o evangelho em figura, uma apresentação do cristianismo que deveria expandir-se à medida que a mente das pessoas fosse compreendendo a luz espiritual. Satanás sempre procura obscurecer as verdades que são claras, e Cristo sempre procura abrir a mente à compreensão de toda verdade essencial a respeito da salvação do homem caído. Até hoje ainda há aspectos da verdade que são discernidos indistintamente, conexões que não são compreendidas, e amplas profundezas da lei de Deus que não são percebidas. Há incomensurável amplitude, dignidade e glória na lei de Deus; e, no entanto, o mundo religioso pôs de lado esta lei, como os judeus, a fim de exaltar as tradições e os mandamentos de homens. Antes dos dias de Cristo, os homens perguntavam inutilmente: "Que é a verdade?" João 18:38. As trevas cobriam a Terra, e a escuridão os povos. Até mesmo a Judéia estava envolta em obscuridade, embora a voz de Deus lhes falasse em Seus oráculos. A verdade de Deus fora reduzida ao silêncio pelas superstições e tradições de seus pretensos


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intérpretes, e contendas, ciúmes e preconceitos dividiam os professos filhos de Deus. Então houve um Mestre enviado por Deus - Aquele mesmo que era o Caminho, a Verdade e a Vida. Jesus expôs a pura e preciosa verdade do Céu a fim de que brilhasse entre as trevas e escuridão moral da Terra. Deus dissera: "Haja luz espiritual", e a luz da glória de Deus foi revelada na face de Jesus Cristo.

Cristo foi manifestado como Salvador dos homens. As pessoas não deviam confiar de modo algum em suas próprias obras, em sua própria justiça ou em si mesmas, e, sim, no Cordeiro de Deus que tira os pecados do mundo. NEle foi revelado o Advogado junto ao Pai. Por Seu intermédio foi feito o convite: "Vinde, então, e argüi-me, diz o Senhor; ainda que os vossos pecados sejam como a escarlata, eles se tornarão brancos como a neve; ainda que sejam vermelhos como o carmesim, se tornarão como a branca lã." Isa. 1:18. Este convite tem repercutido através dos tempos até os nossos dias. Que o orgulho, a estima ou justiça próprias não impeçam a alguém de confessar seus pecados, para que possa fazer jus à promessa: "O que encobre as suas transgressões nunca prosperará; mas o que as confessa e deixa alcançará misericórdia." Prov. 28:13. Não oculteis nada a Deus e não negligencieis a confissão de vossas faltas aos irmãos quando eles têm alguma ligação com elas. "Confessai as vossas culpas uns aos outros e orai uns pelos outros, para que sareis." Tia. 5:16. Muitos pecados não são confessados, e ter-se-á de enfrentá-los no dia do ajuste final; é muito melhor reconhecer os pecados agora, confessá-los e abandoná-los, enquanto o Sacrifício expiatório intercede em nosso favor. Não tenhais aversão a aprender a vontade de Deus sobre este assunto. O bem-estar de vossa alma, a unidade de vossos irmãos podem depender da atitude que tomais nestas coisas. "Humilhai-vos, pois, debaixo da potente mão de Deus, para que, a seu tempo, vos exalte, lançando sobre Ele toda a vossa ansiedade, porque Ele tem cuidado de vós." I Ped. 5:6 e 7.

É um fato lamentável que o coração faltoso não esteja disposto a ser criticado ou a sujeitar-se à humilhação pela...

Em busca de uma visão mais equilibrada sobre a ação de Deus.

De tempos em tempos, recebemos relatórios em várias publicações de nossa igreja. Trata-se de jornais de associações locais e outras informações de primeira, segunda e até terceira mão sobre o visível e notável crescimento de nossas igrejas em algum lugar do mundo, em determinada divisão ou associação. Como tópicos de discussão e informação, essas “igrejas milagrosas” vêm e vão, mas parecem ser um fenômeno cada vez mais presente.

Gostamos de saber que existe uma igreja ou distrito milagroso a uma distância razoável de nossa própria igreja, porque, de alguma maneira, alivia nossa frustração em relação à aparente estagnação de nossa congregação, dando-nos um pouco mais de esperança.

Provavelmente, esse não é o único efeito. É provável que tais relatórios possam, também, levantar algumas perguntas como: “Por que parece que quase nada acontece onde eu estou, na igreja que eu freqüento?” “E o que nós podemos fazer em relação a isso?”

Desapontamento

Não faz muito tempo, eu estava em uma “igreja milagrosa”, uma igreja grandemente divulgada como “lugar onde as coisas acontecem”. Dependendo do relatório, líamos que a freqüência à igreja havia aumentado entre 50 a 150% no ano anterior. Acoplado a um novo edifício e onde estava em curso um programa evangelístico, esse era o lugar onde eu queria estar envolvido.

Mas ela se revelou uma decepção. Simplificando, nada foi acrescentado com os números. Além disso, era uma igreja que parecia ter mais problemas internos do que a maioria, e o fato de estar tão centrada em alcançar outros a transformou numa igreja obcecada por estatísticas – evangelismo em detrimento do amor. Francamente, a realidade não correspondeu aos relatórios.

Essa decepção leva a outra pergunta: “Se até nossas igrejas de aparente ‘sucesso’ são problemáticas (embora tenha certeza de que nem todas são assim), que esperança há para as outras?”

Outro Quadro

Enquanto faço essas considerações, lembro-me das muitas manhãs de sábado que passei em diversas igrejas. Em alguns casos, pode-se ficar admirado com a freqüência e com o que está acontecendo.

C. S. Lewis experimentou algo similar no princípio de sua vida cristã e escreveu: “Quando me tornei cristão, pensei que podia exercer meu cristianismo por mim mesmo, ficando em meu quarto e lendo sobre teologia; não queria ir à igreja... Detestava os seus hinos, que considerava poemas de quinta categoria colocados em músicas de sexta categoria. Mas, ao perseverar, percebi seu grande mérito. Encontrei-me com diferentes tipos de pessoas, com diferentes perspectivas e diferentes níveis de instrução e, de repente, meu preconceito começou a se quebrar. Cheguei à conclusão de que os hinos (que, para mim, eram apenas música de sexta categoria) eram cantados com devoção e para o benefício de um santo homem idoso, usando botas e assentado no banco em direção oposta ao meu. Então percebi que não era digno, sequer, de limpar aquelas botas. Isso nos tira de nossa presunção solitária.”1

Na verdade, todas as igrejas são igrejas milagrosas. Basta olhar em volta, para a incrível variedade de adoradores, e apreciar o milagre que reúne todas essas pessoas com histórias e personalidades diferentes. Como jovem, freqüentemente fico admirado ao observar os membros mais idosos da igreja, que gastaram toda a vida comprometidos com sua fé e com sua igreja.

O Milagre Continua

A história no Novo Testamento, após a ascensão de Cristo, é a história do desenvolvimento da igreja cristã. E as muitas cartas que constituem o restante do Novo Testamento são dirigidas a diferentes igrejas. A título de exemplo, as cartas para as sete igrejas, nos três primeiros capítulos do Apocalipse, apresentam esses grupos distintos da igreja na época em que foram escritas, cada uma com pontos fortes e fracos. Todas essas igrejas e cristãos do primeiro século têm um lugar especial como parte do crescimento do reino de Deus. Todas eram partes vitais do grande milagre do desenvolvimento do mundo do primeiro século.

O milagre continua e, pela graça de Deus, somos parte dele. Nossa experiência individual em uma igreja − qualquer igreja – pode envolver admiração e desapontamento. Entretanto, nosso envolvimento com a igreja, como parte do corpo de Cristo, será sempre um milagre. Se concentrássemos nossa atenção no milagre em nossa própria vida, nossa experiência na igreja teria muito mais milagres do que desapontamentos.

Sobre o culto na igreja, Lewis escreveu: “O perfeito culto na igreja deve ser aquele que passou quase despercebido; nossa atenção deveria estar em Deus.”2

Uma igreja invisível não devia necessariamente ser uma coisa boa, mas se fôssemos capazes de não gastar tanta energia tentando criar outra “igreja milagre”, poderíamos prestar mais atenção à verdadeira finalidade da igreja, como parte do reino de Deus, no pedaço do mundo onde vivemos.

Todas as igrejas são milagrosas. Trabalhemos em nossa própria igreja e, com o poder e o amor de Deus, o milagre continuará aumentando.

1 C. S. Lewis, God in the Dock (Grand Rapids, Michigan: William B. Eerdmans, 1970), pp. 61, 62.
2 Lewis, Letters to Malcolm: Chiefly on Prayer (Harcourt, 2003), p. 2.