domingo, 28 de dezembro de 2008

Em busca de uma visão mais equilibrada sobre a ação de Deus.

De tempos em tempos, recebemos relatórios em várias publicações de nossa igreja. Trata-se de jornais de associações locais e outras informações de primeira, segunda e até terceira mão sobre o visível e notável crescimento de nossas igrejas em algum lugar do mundo, em determinada divisão ou associação. Como tópicos de discussão e informação, essas “igrejas milagrosas” vêm e vão, mas parecem ser um fenômeno cada vez mais presente.

Gostamos de saber que existe uma igreja ou distrito milagroso a uma distância razoável de nossa própria igreja, porque, de alguma maneira, alivia nossa frustração em relação à aparente estagnação de nossa congregação, dando-nos um pouco mais de esperança.

Provavelmente, esse não é o único efeito. É provável que tais relatórios possam, também, levantar algumas perguntas como: “Por que parece que quase nada acontece onde eu estou, na igreja que eu freqüento?” “E o que nós podemos fazer em relação a isso?”

Desapontamento

Não faz muito tempo, eu estava em uma “igreja milagrosa”, uma igreja grandemente divulgada como “lugar onde as coisas acontecem”. Dependendo do relatório, líamos que a freqüência à igreja havia aumentado entre 50 a 150% no ano anterior. Acoplado a um novo edifício e onde estava em curso um programa evangelístico, esse era o lugar onde eu queria estar envolvido.

Mas ela se revelou uma decepção. Simplificando, nada foi acrescentado com os números. Além disso, era uma igreja que parecia ter mais problemas internos do que a maioria, e o fato de estar tão centrada em alcançar outros a transformou numa igreja obcecada por estatísticas – evangelismo em detrimento do amor. Francamente, a realidade não correspondeu aos relatórios.

Essa decepção leva a outra pergunta: “Se até nossas igrejas de aparente ‘sucesso’ são problemáticas (embora tenha certeza de que nem todas são assim), que esperança há para as outras?”

Outro Quadro

Enquanto faço essas considerações, lembro-me das muitas manhãs de sábado que passei em diversas igrejas. Em alguns casos, pode-se ficar admirado com a freqüência e com o que está acontecendo.

C. S. Lewis experimentou algo similar no princípio de sua vida cristã e escreveu: “Quando me tornei cristão, pensei que podia exercer meu cristianismo por mim mesmo, ficando em meu quarto e lendo sobre teologia; não queria ir à igreja... Detestava os seus hinos, que considerava poemas de quinta categoria colocados em músicas de sexta categoria. Mas, ao perseverar, percebi seu grande mérito. Encontrei-me com diferentes tipos de pessoas, com diferentes perspectivas e diferentes níveis de instrução e, de repente, meu preconceito começou a se quebrar. Cheguei à conclusão de que os hinos (que, para mim, eram apenas música de sexta categoria) eram cantados com devoção e para o benefício de um santo homem idoso, usando botas e assentado no banco em direção oposta ao meu. Então percebi que não era digno, sequer, de limpar aquelas botas. Isso nos tira de nossa presunção solitária.”1

Na verdade, todas as igrejas são igrejas milagrosas. Basta olhar em volta, para a incrível variedade de adoradores, e apreciar o milagre que reúne todas essas pessoas com histórias e personalidades diferentes. Como jovem, freqüentemente fico admirado ao observar os membros mais idosos da igreja, que gastaram toda a vida comprometidos com sua fé e com sua igreja.

O Milagre Continua

A história no Novo Testamento, após a ascensão de Cristo, é a história do desenvolvimento da igreja cristã. E as muitas cartas que constituem o restante do Novo Testamento são dirigidas a diferentes igrejas. A título de exemplo, as cartas para as sete igrejas, nos três primeiros capítulos do Apocalipse, apresentam esses grupos distintos da igreja na época em que foram escritas, cada uma com pontos fortes e fracos. Todas essas igrejas e cristãos do primeiro século têm um lugar especial como parte do crescimento do reino de Deus. Todas eram partes vitais do grande milagre do desenvolvimento do mundo do primeiro século.

O milagre continua e, pela graça de Deus, somos parte dele. Nossa experiência individual em uma igreja − qualquer igreja – pode envolver admiração e desapontamento. Entretanto, nosso envolvimento com a igreja, como parte do corpo de Cristo, será sempre um milagre. Se concentrássemos nossa atenção no milagre em nossa própria vida, nossa experiência na igreja teria muito mais milagres do que desapontamentos.

Sobre o culto na igreja, Lewis escreveu: “O perfeito culto na igreja deve ser aquele que passou quase despercebido; nossa atenção deveria estar em Deus.”2

Uma igreja invisível não devia necessariamente ser uma coisa boa, mas se fôssemos capazes de não gastar tanta energia tentando criar outra “igreja milagre”, poderíamos prestar mais atenção à verdadeira finalidade da igreja, como parte do reino de Deus, no pedaço do mundo onde vivemos.

Todas as igrejas são milagrosas. Trabalhemos em nossa própria igreja e, com o poder e o amor de Deus, o milagre continuará aumentando.

1 C. S. Lewis, God in the Dock (Grand Rapids, Michigan: William B. Eerdmans, 1970), pp. 61, 62.
2 Lewis, Letters to Malcolm: Chiefly on Prayer (Harcourt, 2003), p. 2.


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